1. |
Os Dois Sujos
03:48
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um moleiro e um carvoeiro
travaram-se de razões
um era da cor da neve
outro da cor dos carvões
cada qual deles teimava
que o outro mais sujo estava
tinham ambos a mão leve
choveram uns bofetões
e qual foi o resultado
um ao outro se sujou
pois ficou o carvoeiro
mau grado seu empoado
e o moleiro
igualmente enfarruscado
assim fazem as comadres
quando ralham e os compadres
se a politica os separa
cada qual sem se limpar
consegue o outro sujar
nem é isso coisa rara
letra: Henrique O'Neill
música: Hugo Correia
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2. |
O Caranguejo e o Filho
02:15
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que modo tens tu de andar
isso é quase recuar
disse ao filho o caranguejo
não pões os olhos em mim
porque vejo
o que o pai faz
lhe respondeu o rapaz
julguei que se andava assim
lembro-me de ouvir um dia
papagaio que dizia
careca o pai e a mãe
careca o filho também
letra: Henrique O'Neill
música: Hugo Correia
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3. |
Os Extremos
03:31
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um homem por muito olhar
para o sol veio a cegar
outro que tal caso viu
e a mesma sorte temeu
da luz do dia fugiu
em negro antro se meteu
de onde nunca mais saiu
assim por modos diferentes
ambos foram padecentes
afinal
do mesmo mal
pois nem um nem outro via
privados da luz do dia
muitas vezes assim temos
a tocaram-se os extremos
letra: Henrique O'Neill
música: Hugo Correia
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4. |
Casa do Cuco
02:27
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5. |
Borboleta Recadeira
02:54
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borboleta recadeira
não venhas p’rá minha beira
vai pousar nos medronheiros
nos carvalhos altaneiros
nos salgueiros
vidoeiros
à porta dos feiticeiros
boateiros
embusteiros
prestamistas e coveiros
nas árvores dos cemitérios
lá nos longínquos impérios
onde acabam e começam
as raias dos hemisférios
borboleta recadeira
que vens negra como a noite
vestida de solidão
vai pousar onde quiseres
mas à minha beira não
letra: Alexandre Parafita
música: Hugo Correia
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6. |
O Gato
03:35
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um gato
em casa
sozinho
sobe à janela
para que da rua o vejam
o sol bate nos vidros
e aquece
o gato
que imóvel
parece um objecto
fica assim para que o invejem
indiferente mesmo que o chamem
por não sei que privilégio
os gatos conhecem a eternidade.
letra: Nuno Júdice
música: Hugo Correia
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7. |
O Avestruz
03:32
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não se contentou de ser
enorme descomunal
ave enfim mesmo de truz
voar quis o avestruz
não podia adormecer
sossegar
vendo os voos do pardal
da andorinha
mesquinha
mandou pois apregoar
a hora certa e o local
donde às nuvens voaria
ajuntou-se a bicharia
e postou-se para ver a exibição
o avestruz nem voou
mal tirou os pés do chão
o que deu em resultado
ser justamente apupado
quem nasceu só para andar
ou que mal pode voar
não se meta a voador
vá andando que é melhor
letra: Henrique O'Neill
música: Hugo Correia
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8. |
A Aranha e o Sol
03:48
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a aranha um dia
teve uma ideia
jurou que iria
prender o sol
na sua teia
por isso à noite
ficou de vela
ia apanhá-lo
mal clareasse
pensava ela
só que o orvalho
desfez-lhe a teia
gota após gota
hora após hora
e diz a aranha
que coisa feia
tanto trabalho
jogado fora
por isso o sol
rompeu de vez
e vendo a aranha
manhosa e feia
chorar a perda
da sua teia
o que é que fez
riu-se da ideia
a aranha um dia
jurou que iria
prender o sol
letra: Alexandre Parafita
música: Hugo Correia
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9. |
O Grifo
03:52
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vou à memória dos tempos
e vejo-me retratado
com uma cabeça de águia
e um corpo musculado
o corpo é de um leão
e no dorso tenho asas
que me permitem voar
sobre os campos e as casas
nas minhas quatro patas
tenho garras aguçadas
para rasgar os panos
das mais negras madrugadas
venho da antiguidade
com este jeito felino
de quem não tem idade
e dá ordens ao destino
meti medo a muita gente
a soldados e a videntes
deixei-os brancos de medo
com um tremor nos dentes
a minha cabeça de águia
tornou-me tão astuto
que o meu corpo de leão
é somente peso bruto
sou o grifo mitológico
dos sonhos e das lendas
a quem os mais antigos
faziam belas oferendas
letra: José Jorge Letria
música: Hugo Correia
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10. |
Fim
03:57
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quando eu morrer batam em latas
rompam aos saltos e aos pinotes
façam estalar no ar chicotes
chamem palhaços e acrobatas
que o meu caixão vá sobre um burro
ajaezado à andaluza
a um morto
nada se recusa
eu quero por força
ir de burro
letra: Mário de Sá Carneiro
música: Hugo Correia
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Meu Melro Portugal
MEU MELRO, expressão de cariz popular, foi o pseudónimo adoptado pelo cantautor Hugo Correia, músico do Porto, ao apresentar-
se com o disco de estreia “Vai Pousar Onde Quiseres”, inspirado pela obra “Fábulas” do escritor oitocentista Henrique O’Neill.
Além dos textos de O'Neill, podem ser ouvidas as palavras de outros escritores de renome da nossa literatura.
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